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Cruz de Pedra e seus Valores Culturais
Segundo dados recolhidos, presume-se que tudo começou no ano 1766, na Quinta da Boa Vista de Gaia, Casa das Lameiras, quando o seu proprietário António Cardoso de Meneses Vasconcelos, Sargento-mor de Infantaria, mandou construir uma capela em honra ao grande pregador Santo António, com as medidas de 5,5 m2 de comprimento e 4,10 m2 de largura.
No seu Altar, o Santo António a todos atende,
fazendo aparecer os objectos perdidos. Livra dos maus vizinhos, protege a
bicharada, sorri-se da Santa Ingenuidade da Povo, espreita alegre os seus
folguedos e acima de tudo, empurra os pares dos namorados a casar e levá-los à
Igreja cobertos de alecrim e rosmaninho.
Curiosa e segundo as crónicas, é a escritura
datada de 25 de Outubro de 1765, que estabelece o dote de 2$600 Reis por ano,
com a obrigação da celebração de duas missas no dia de Santo António, uma
rezada, outra cantada, ficando o seu filho mais velho ou a sua descendência a
cumprir tal legado. E para sustento da capela, ficam obrigadas "umas casas
na Rua dos Gatos (hoje Rua das Lameiras) denominada Casal da Rosa, a uma renda
anual, representada por o foro de 8 Alqueires trigo, 10 de milho-alvo, 6 de
centeio, meia pipa de vinho, 6 dúzias de molhos de palha piança, uma marrã de 2
arrobas, um leitão e 2 galinhas". Mais tarde e sempre no mês de Junho de
cada ano, realizava-se a ronda de S. Sebastião, que percorria a antiga Rua das
Molianas (hoje, Rua da Liberdade), subia a Cruz de pedra, descia pela Rua dos
Gatos, esta devidamente iluminada com os seus lampiões em pedra com trémulas
lamparinas em tigelinhas de barro, com paragem obrigatória na Casa das
Lameiras, junto da Capela de Santo António, onde as gentes cantavam e bailavam
ao som de uma banda musical e no ar estrelavam foguetes e morteiros, em honra
do santo e só ao cair da noite a ronda regressava a S. Miguel, subúrbios da
Vila. No entanto, o arraial continuava pela noite dentro até ao raiar do dia.
Hoje a Quinta da Boa Vista de Gaia, foi absorvida pela voracidade do progresso
e nos seus terrenos encontra-se instalado o Guimarães Shopping. Contudo, a
antiga capela de Santo António, encontra-se implantada na Vivenda da Sagrada
Família, na Freguesia de Tenões em Braga, juntamente com o Brasão da Casa das
Lameiras e estatuetas que outrora existiram nos seus jardins, propriedade do
Sr. Dr. Nicolau da Silva Gonçalves e ainda hoje continua a celebrar-se missa
duas vezes no ano, no dia 8 de Dezembro (Sra. da Conceição e no dia 13 de
Junho, dia de Santo António). Mas se nos levaram ingloriamente à Capela de
Santo António, a Cruz de Pedra tem motivos de interesse e valores culturais que
os seus moradores preservam com muito cuidado, o que os seus antepassados lhes
legaram.
Narra-nos a ilustre historiador vimaranense Padre António Ferreira Caldas, que por volta do ano de 1780, uns devotos chamados "Amaros", colocaram ao cimo da Rua da Alegria (hoje, Rua da Liberdade) o Cruzeiro de Pedra, por debaixo d'uma cobertura ou pequeno telhado sobre quatro colunas, dedicada com religiosidade ao Senhor da Agonia, tendo por nicho um Cristo pintado a óleo em madeira.
Reedificada em 1874, foi benzido solenemente na
Páscoa do ano de 1875. Como é fácil de calcular que durante todos estes anos
têm sofrido arranjos e restauros sempre com as valiosas ajudas da Câmara
Municipal e Junta de Freguesia de Creixomil, com a estreita colaboração do povo
da rua, pois este tradicional cruzeiro, foi legado à zona da Cruz de Pedra,
donde lhe vem o nome do lugar, podendo considerar-se o Ex-Libris da rua e por
tal motivo a população tem o privilégio e o dever de zelar e venerar o Senhor
da Cruz de Pedra. Paragem obrigatória de muitos caminhantes que têm uma devoção
muito especial por o Senhor da Agonia, obtendo do mesmo lenitivo para as suas
dores, preocupações e problemas da vi
Fornos
da Cruz de Pedra
Mencionar a
Cruz de Pedra e não associar o seu nome aos Fornos da Cruz de Pedra, julgo ser
uma heresia, na medida em que esta antiquíssima arte de olaria artesanal esteja
ligada por laços indestrutíveis ao passado da nossa cidade de Guimarães. Pode
dizer-se que aqui foi o berço de uma das mais antigas indústrias da Vila de
Guimarães. A Olaria, pois nos seus subúrbios e arrabaldes fora da Vila
amuralhada, existiram dezenas de fornos que fabricavam louças que vendiam ou
trocavam nos mercadas ou feiras, à maneira estendal, tão alegre e pitoresco.
Primeiro no Toural e mais tarde nas "Carvalhas de S. Francisco". São
famosas não só em Portugal como no estrangeiro as célebres Cantarinhas das
Prendas ou dos Namorados, que ainda continuam a fabricar nos Fornos da Cruz de
Pedra. A sua história é riquíssima por a singela e tradição que encerra,
traduzindo à evidencia os bons costumes das gentes minhotas. Esta peça tão artística,
verdadeira obra de ante e bom gosto, ainda continua a servir para presentear
por as entidades oficiais, quem nos visita e é muito procurada por turistas,
que as adquirem com um sentimento muito amoroso.
Guimarães, Património Cultural da Humanidade, tem
nas Cantarinhas dos Namorados o seu principal cartão-de-visita da nossa cidade.
Pena é que o aspecto actual dos fornos seja bastante confrangedor. No entanto,
existe a promessa da Câmara Municipal, que está para breve o início dos
trabalhos da sua reabilitação e recuperação de forma a revitalizar aquele
espaço, dotando-o com um Projecto de Reconversão Urbanística que contempla um
pequeno auditório ao ar livre. Julgo que a sua reconstrução representa também
uma forma de preservar um património diferente, como são as Olarias.
Mesma no seu centro e em frente ao Cruzeiro da
Cruz de Pedra, encontra-se a Quinta do Costeado, casa brasonada, cuja história
se encontra repleta de feitos históricos e lendas de encantar, como a
riquíssima lenda da Menina Júlia, a menina que gastava de flores e que nas
luarentas noites de Maio, na Quinta do Costeado choravam as árvores, pois dos
seus ramos brotavam lágrimas de chuva em memória da sua menina. Talvez em
memória do seu passado continuam a brotar lindas japoneiras e vistosas flores
nos seus jardins que são muito procuradas por os seus moradores.
As Alminhas das Lameiras e do Salgueiral continuam
a testemunhar aos passantes, marcos históricos da religiosidade das gentes
vimaranenses.
A Cruz de Pedra, outrora inserida no importante
pólo industrial têxtil, bairro castiço da periferia, hoje a laborar com outros produtos,
um desses marcos em que é a Fábrica de Tecidos da Cruz de Pedra (muito famosos "Os Felpos da Cruz de Pedra). Hoje, já é
cidade pois encontra-se rodeada por blocos habitacionais importantes, caminhando
a passos largos na vertente urbanística da cidade dos nossos dias e com as
estruturas já criadas e mais-valias condizentes, tais como o Guimarães Shoping
até o próprio Hospital e muito recentemente a instalação na sua área
circundante da Cidade Desportiva com o Pavilhão Multiusos, piscinas e pista de
atletismo, o Mercado Municipal e o recinto da Feira Semanal.
A Cruz de Pedra, lugar milenário coma a sua
freguesia de Creixomil, acredita num futuro risonho, acompanhando o progresso,
mas nunca esquecendo as suas raízes e história.